Cóclea

Desenhos: S. Blatrix

No feto humano, o órgão espiral (de Corti) começa a desenvolver-se na 9ª semana de gestação (sg). Este desenvolvimento é ilustrado abaixo por uma série de fotografias de microscopia electrónica de varrimento (MEV) e de microscopia de luz (ML) (ver também ref. b24). A correspondência entre o desenvolvimento humano e de alguns mamíferos é apresentado na tabela I.

Estadio 1: Primeiros sinais de diferenciação (9-10 semanas de gestação)

Premiers signes de différenciation

M. Lavigne-Rebillard

Premiers signes de différenciation

M. Lavigne-Rebillard

O enrolamento da cóclea está terminado (à direita). O osso da cápsula ótica foi removido revelando a superfície do órgão espiral. O epitélio sensorial ainda não se diferenciou. A grande ampliação, à direita, só é possível observar alguns filamentos da futura membrana tectória (setas).

Escala esquerda: 1 mm; escala direita:25 µm

section transversale (Nomarski)

M. Lavigne-Rebillard

Corte transversal do otocisto em microscopia de luz mostrando o espessamento epitelial que irá dar origem ao órgão espiral, recoberto por uma fina membrana tectória (seta branca). O gânglio espiral (seta vermelha) está mais avançado na sua diferenciação sendo visíveis fibras nervosas (seta azul) que ligam ao futuro órgão espiral: estas fibras penetram no epitélio onde as células ciliadas ainda não se distinguem.

Escala: 75 µm.

Estadio 2: inicio da diferenciação morfológica das células ciliadas (11-12 sg)

Début de la différenciation morphologique des cellules ciliées

M. Lavigne-Rebillard

Os tufos circulares de estereocílios das CCIs (i) e CCEs (o) distinguem-se das microvilosidades das células de suporte.

Escala: 10 µm.

Section, en Nomarski

M. Lavigne-Rebillard

Secção duma cóclea de feto humano com 11sg.
 A seta branca aponta a membrana tectória.
 Escala: 20 µm

Na imagem de maior ampliação (janela), distinguem-se as terminações nervosas (setas azuis) agrupadas sobre as células ciliadas que começam, elas mesmas, a diferenciar-se. A seta vermelha aponta CCI recém-nascida.

Estadio 3: órgão espiral imaturo (14-15 sg)

Surface d'une cochlée de foetus humain de 14sg

M. Lavigne-Rebillard

Superfície dum órgão espiral de feto humano com 14 sg (MEV). Os estereocílios desenvolvem-se e começam a organizar-se como no adulto: desaparecimento dos tufos circulares.

Escala: 10 µm

Nomarski d'une cochlée de foetus de 14sg.

M. Lavigne-Rebillard

Imagem de uma cóclea de feto humano de 14 sg.

As CCI (seta vermelha) e as CCE (setas azuis) distinguem-se perfeitamente das células de suporte.

Escala: 20 µm

Mesmo estadio no ratinho de 2 dias.

O órgão de Kölliker (*) é muito espesso: desempenha um papel fundamental na formação da membrana tectória (seta branca). A CCI (seta vermelha) e as CCE (setas azuis) distinguem-se perfeitamente das células de suporte.

Escala: 20 µm

Même stade chez une souris de 2 jours.

M. Lenoir

Estadio 4: Órgão espiral no momento da entrada em função (18-20sg)

Organe de Corti au moment de l'entrée en fonction

R. Pujol

Em todos os mamíferos estudados (ver tabela I), este estadio morfológico corresponde ao da entrada em função da cóclea.

O túnel interno (de Corti) está aberto, o justacunículo (espaço de Nuel) está-se a formar em torno das CCEs (setas azuis) e o órgão de Kölliker (*) regride formando o sulco espiral interno e a membrana tectória. Este corte é tangencial à CCI pelo que não é visível.

Escala: 15 µm

Células ciliadas supranumerárias

Cellules ciliées surnuméraires

M. Lavigne-Rebillard

Cellules ciliées surnuméraires

M. Lavigne-Rebillard

Células ciliadas supranumerárias são frequentemente e temporariamente observadas durante o desenvolvimento do órgão espiral entre os estadios 3 e 4, no Homem. Nestas imagens (14sg à esquerda e 20sg à direita) é possível distinguir 2 fiadas de CCI (setas vermelhas) e 4 a 5 fiadas de CCEs (setas azuis). Escala: 20 µm

Estadio 5: fim do desenvolvimento coclear (30sg)

Fin du développement cochléaire

M. Lenoir

No fim do desenvolvimento o órgão espiral tem o aspecto desta imagem (rato adulto).

As microvilosidades desapareceram da superfície das células de suporte especialmente nos pilares.

Escala: 15 µm

Imagem de secção transversal do órgão espiral dum cobaio adulto (ML).

As principais diferenças entre os estadios 4 e 5 concernem especialmente as CCEs, as células de suporte que as envolvem (Deiters e Hensen) e o alargamento do túnel interno (de Corti).

Escala: 10 µm

Fin du développement cochléaire

R. Pujol

Tabela I: Maturação do órgão espiral (Corti) em diferentes mamíferos

Esta tabela compara o desenvolvimento coclear no homem e em diferentes animais nos estadios 2 (começo da diferenciação morfológica das células ciliadas), 4 (aparecimento dos primeiros potenciais cocleares) e 5 (fim da maturação).

sg = semanas de gestação; de = dias embrionários; dpn = dias pósnatais

 Especie

  Estadio 2

 Estadio 4

 Estadio 5

Homem
 Rato, ratinho
 Gato
 Cobaio
 Chinchila

10 sg
 16-17 de
 ? (de)
 34 de
 ? (de)

18 sg
 8-10 dpn
 3 dpn
 54 de
 12 dpn

 30 sg
 16-20 dpn
 20 dpn
 6 dpn
 20 dpn

Tabela II: Desenvolvimento comparado da cóclea e do córtex auditivo no Homem e no rato (adaptado do Pujol e Uziel)

Desenvolvimento comparado da cóclea e do córtex auditivo

Este esquema apresenta os estadios 2, 4 e 5 (ver acima) da maturação coclear e mostra a maturação tardia do córtex auditivo.

As setas horizontais em baixo mostram os períodos de hiperssensibilidade para 3 causas maiores de patologia da cóclea durante o seu desenvolvimento: durante estes períodos a cóclea é francamente mais sensível a estes factores que a cóclea adulta.

Última atualização: 2016/27/12 9:23