Surdez Neurossensorial

Em sentido estrito o termo surdez neurossensorial engloba as patologias dos neurónios e das células ciliadas.

Na prática clínica, designa-se por vezes a surdez neurossensorial como surdez de percepção, mesmo que este termo seja muito ambíguo, pois a maioria destas perdas auditivas são de origem coclear. Por outro lado, nem todas as hipoacusias de percepção são de origem neurossensorial.

Nota - as páginas que se seguem (algumas das quais ainda em redação) vão abordar quer os aspetos clínicos destas hipoacusias, quer os dados experimentais sobre os mecanismos fisiopatológicos e moleculares que lhes estão subjacentes.

Etiologia

As três principais causas surdez neurossensorial adquirida (não genética) são os fármacos ototóxicos (ototoxicidade), a sobrestimulação acústica (traumatismo) e o envelhecimento (presbiacúsia). Um quarto fator é a excititoxicidade, que é transversal a todas as causas anteriores, sendo um componente fundamental do traumatismo acústico e desempenhando um importante papel na ototoxicidade, no envelhecimento e em certos casos de surdez súbita.

2 patologias mais frequentes da cóclea, responsáveis por hipoacusias neurossensoriais

Sintomas:

  • Baixa da acuidade auditiva
  • Vertigens
  • Acufenos
  • Paralisia facial

As hipoacusias neurossensoriais não são dolorosas (com exceção de alguns casos de traumatismo acústico agudo que será tratado num capítulo à parte), no entanto podem surgir cefaleias em alguns tumores avançados que também provocam hipoacusia.

Exame clínico

O ouvido externo e médio são normais. O timpanograma é normal.

O exame cuidado dos pares cranianos é fundamental (com particular atenção ao nervo facial e ao exame vestibular).

As características acumétricas e audiométricas são as seguintes (ver capítulo dedicado à exploração funcional):

  • Weber lateralizado para o lado são em caso de surdez unilateral, ou para o menos surdo em casos de assimetria.
  • Rinne : CA > CO
  • Abaixamento da CA e da CO, curvas sobrepostas (imagem).
  • Reflexo estapediano: Variável dependendo da etiologia (ver hipoacusia coclear / retrococlear).
  • Vocal : deslocada para a direita, podendo atingir os 100% a intensidades mais elevadas.A forma da sinusóide está frequentemente alterada. É frequente observar uma queda da inteligibilidade com o aumento da intensidade (baixa da inteligibilidade nas intensidades elevadas).Daí a queixa frequente: "eu ouço mas não compreendo".

Hipoacusias cocleares

Existe reflexo estapediano, detetável em torno dos 80dB. Trata-se dum fenómeno de recobro. Os PEA mostram limiares diminuídos mas latências normais

As etiologias podem ser: a presbiacusia, hipoacusias congénitas de origem coclear, doença de Ménière, surdez súbita. Todas estas causas têm capítulos próprios que podem ser consultados)

Nota importante: a presbiacusia é sempre bilateral e simétrica. As outras etiologias podem ser unilaterais ou afetar os dois ouvidos de forma assimétrica ou desfasada no tempo.

Hipoacusia retrococlear devida a tumor do nervo vestibulococlear (neurinoma do acústico)

O reflexo estapediano pode estar presente para intensidades superiores a 80 dB, ou estar ausente se a surdez for importante. Os PEA mostram limiares diminuídos e latências anormais: alongamento do intervalo entre as ondas I e V.

O tumor mais frequente do nervo vestibulococlear é o scwanoma vestibular (ou neurinoma do acústico) :

  • Tumor benigno do nervo vestibular inferior que se desenvolve na CAI e cresce em direção ao ângulo ponto-cerebeloso.
  • Risco de compressão doutras estruturas: V e VII pares cranianos, tronco cerebral e cerebelo. 
  • Crescimento lento (1mm a 1 cm/ano) e frequência baixa de 1/100000.

Sinais clínicos:

  • Surdez de percepção unilateral (súbita ou progressiva) 70%
  • acufeno unilateral 10%
  • Vertigens 10%
  • Mais raramente : síndroma neurológico (V, VII, cefaleias, síndroma cerebeloso)

Exames complementares :

  • Audiograma tonal e vocal : discordância tonal-vocal = alteração da inteligibilidade mais importante do que seria de supor pelo audiograma tonal
  • Exploração vestibular : hipovalência homolateral
  • Exploração imagiológica :RMN com injeção de contraste (gadolínio).

Tratamento

  • 3 opções : vigilância / cirurgia / radioterapia (gamma-knife).

Última atualização: 2016/18/10 21:15